Cloud computing ou… subindo às nuvens

Info Summit 2010. Nicholas Carr abre a programação do evento, defendendo, como era de se esperar, a inevitabilidade da cloud computing ou “computação nas nuvens”. E quem são Nicholas Carr e a “computação nas nuvens”?

Nicholas Carr é o autor do polêmico livro “Does IT Matter? Information Technology and the Corrosion of Competitive Advantage” (“Será que TI É Tudo? Repensando o Papel da Tecnologia da Informação”, Harvard Business School Press, 2003), onde argumenta que a importância estratégica da TI (Tecnologia da Informação) nas empresas diminuiu e que TI está se tornando um produto indiferenciado, uma commodity – posição que tem custado ao autor muitas críticas por parte de grandes empresas de TI. Com o artigo “The End of Corporate Computing” (MIT Sloan Management Review, 2004), ele aprofundou a questão, argumentando que, no futuro, as companhias comprariam TI como serviço de fornecedores externos à empresa. E Carr retornou ao assunto com seu segundo livro, “The Big Switch” (“A Grande Mudança”, W. W. Norton, 2008), que aborda as conseqüências econômicas e sociais provocadas pela cada vez mais onipresente “computação nas nuvens”.

Quanto à “computação nas nuvens”, trata-se de um conceito que faz referência ao processamento e/ou armazenamento de dados e informações através de centros espalhados pelo mundo – uma “nuvem de computadores” – em essência, a internet. E como este conceito teria nascido?

No livro The Big Switch, Carr compara o surgimento da “computação nas nuvens” ao das primeiras usinas geradoras de energia elétrica, de meados do século XIX: o primeiro exemplo de migração do formato “local” para o formato “nas nuvens” foi justamente o das usinas de geração de eletricidade.

Ele explica que, nos idos de 1850, as indústrias montavam suas próprias usinas geradoras de energia. E Henry Burden, engenheiro e industrial escocês radicado nos EUA, vislumbrou que produzir mais energia para sua indústria lhe daria ganhos em eficiência e produtividade e seria tão importante quanto ter trabalhadores qualificados ou bons produtos, trazendo-lhe uma vantagem competitiva sobre seus concorrentes. Ele construiu uma enorme roda d’água, que se tornou um marco na paisagem local. Suas previsões concretizaram-se e, como outros fabricantes de seu tempo, ele envolveu-se tanto no negócio de produzir energia como de produzir bens; pose-se dizer que ele deveu seu sucesso mais à enorme roda d’água que construíra do que propriamente à sua indústria… Mas os tempos mudaram e, com a criação das grandes usinas geradoras de energia elétrica, na primeira metade do século XX, rodas d’água como a de Burden tornaram-se obsoletas e as indústrias passaram a dedicar-se mais ao seu core business.

A cloud computing nada mais seria que a evolução desta migração para o mundo da computação (poder de processamento e armazenamento). As necessidades das empresas em termos de poder computacional não mais são atendidas dentro das próprias empresas, mas sim através da capacidade de terceiros, que é locada, da mesma maneira como a companhia de energia elétrica vende a energia que a empresa vai utilizar – não há porque a indústria gerar ela mesma tal energia (claro que há exceções, como o caso de indústrias que voltaram ao princípio de construir suas próprias usinas, por uma questão de preço e logística).

Gordon Moore, co-fundador da Intel, enunciou o que hoje é chamado de Lei de Moore: em 1965, ele especulou que, a partir de então, a capacidade e velocidade dos processadores dobraria a cada 18 meses, sem que isto implicasse em aumento dos custos. A lei de Moore resiste e ainda não se chegou ao limite de sua validade. Mas o céu é o limite e este aumento de capacidade resulta custoso para as empresas conseguirem acompanhar. É então que surge a questão: para que investir em equipamentos caros e que logo ficarão obsoletos ou no mínimo insuficientes para atender às necessidades de TI? Daí para as nuvens é apenas um passo.

Mas equipamentos grandes e processamento centralizado não evocam uma volta a uma época passada? Cloud computing e data centers de hoje não são os CPDs de ontem? Estamos disfarçadamente dirigindo-nos de volta à era dos mainframes? Efetivamente, poderíamos enxergar a migração para os data centers e para a computação nas nuvens desta forma, mas com o diferencial de que os serviços são oferecidos por terceiros (apesar de que mainframes também podem ser alugados).

Terceiros? A menção a eles logo evoca a questão da segurança, privacidade, disponibilidade e redundância dos dados. Os quesitos segurança e privacidade fazem com que algumas empresas migrem apenas parte de seus dados e serviços para as nuvens – por exemplo, dados de pedidos de clientes, mas não dados de seus cartões de crédito. Da mesma maneira, alguns bancos são mais reticentes quanto à migração.

Os quesitos disponibilidade e redundância normalmente são garantidos mediante o SLA – “Service Level Agreement” ou “Acordo de Nível de Serviço”; por este acordo é que teremos a garantia de desempenho contratualmente acordada. O que não quer dizer que o cliente deva dispensar seus backups locais. Mas backups locais nos levam de volta ao processamento e armazenamento locais.

Estaremos sendo obsessivos demais? Ou a computação nas nuvens veio para ficar? Nicholas Carr crê que a migração para as nuvens ocorra primeiramente com os processos que são similares entre organizações de quaisquer porte ou setor. Os maiores candidatos seriam o CRM e os processos de RH. Aplicativos de missão crítica seriam os últimos a migrar.

No evento que inicia este artigo, Carr afirmou sentir-se seguro entregando seus dados pessoais às nuvens, mas acredita que a migração não ocorra enquanto as nuvens não possam oferecer “um sistema de segurança tão eficiente quanto os sistemas internos”. O que, segundo ele, deverá ocorrer num prazo de quinze anos. Veremos…

Sobre Roberto Blatt

Sou formado em Engenharia Eletrônica pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP), tenho M.S. in Computer Systems and Information Technology pela Washington International University e MBA em Administração de Empresas pela FGV. Tenho mais de 25 anos de experiência profissional na área Administrativa Financeira, desenvolvidos em empresas nacionais e multinacionais dos segmentos automotivo, eletroeletrônico e serviços, vivenciando inclusive o start-up, dentro dos aspectos administrativos e financeiros e tendo atuado na gestão de equipes das áreas Administrativa, RH e Pessoal, TI, Financeira, Comunicação e Compras. Professor no Pós-Admin da FGV em Liderança & Inovação e Gestão de Pessoas. Para acessar meu blog com comentários e críticas sobre cinema, cliquem aqui ou, para artigos sobre Administração, Tecnologia e resenhas de livros, em aqui .
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